domingo, 9 de fevereiro de 2014

ELOS LUMINOSOS


















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ELOS LUMINOSOS

Avelina Maria Noronha de Almeida


Argolas de luz
se encadeiam
entre a Terra
e o Céu

Por elas passam
pensamentos puros
e sonhos
de amor

mas nunca
a ambição
desvairada
de um rei



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

CAMINHOS



















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CAMINHOS

Avelina Maria Noronha de Almeida


Caminho de sombras
Caminho entre flores
Caminho entre pedras
difícil e doloroso
Caminho amedrontado entre montanhas
humilhado
contorcido

Caminho escondido
Caminho de emboscada
Caminho escaldante de sol
Caminho para o Norte
para o Sul
para o Ocidente
para o Oriente

Caminho cercado de bananeiras
onde o vento dedilha
sua melodia verde

Caminho ameaçado
por arames farpados
Caminho que levou um amor
Caminho que trouxe a carta infeliz

Caminho de vento
que levantou a saia rodada
do vestido domingueiro

que derrubou
o galho da árvore
enfeitadinho de flor

Caminho do rio
Caminho da ponte
Caminho da curva
Caminho da poeira
Caminho do cansaço

Caminho onde o carro de boi
vai cantando seu sofrimento
Caminho de vozes do passado
assombrado
Caminho desencaminhado

Caminho iluminado
pela luz prateada do luar

Caminho com palmeiras altas
orgulhosas
Caminho com cruz da estrada
Caminho do martírio
do delírio

Caminho dos sonhos dourados
Caminho da glória
Caminho que não tem fim

Caminho que perdeu o caminho

Caminho do meio-dia
Caminho da meia-noite
Caminho de ida
Caminho de volta
Caminho que não leva
a lugar nenhum

O último caminho
Caminho sem volta



LEMBRANÇAS DE UMA ANTIGA RUA DE CANTO

























LEMBRANÇAS DE UMA ANTIGA RUA DE CANTO

Avelina Maria Noronha de Almeida




A vida tranqüila
e gostosa
de uma rua de canto...

Mulheres
sentadas ao sol,
nos passeios
de pedra, enquanto
mocinhas em flor
desfolham malmequeres.

Crianças vigiando
o passeio das formigas...

Roupas coloridas
balançando nos varais...

As horas vão passando.
As sombras caem
sobre a ruazinha de canto.

Mulheres chegam às janelas
de molduras verdes ou azuis.

“Fui no Itororó...”
Crianças brincam de roda.
“Se esta rua, se esta rua
fosse minha...”

Sonhos sobem para o ar
como balões vermelhos
“eu mandava eu mandava ladrilhar...”
mas se desmancham na noite
como balões incendiados.

E as mocinhas suspiram
sentadas sob o pé de manacá.

A lua surge acima das árvores,
escandalosamente grande
e banha de prata
a ruazinha de canto.

E quando a noite avança,
namorados
cantam
o seu amor
em serenatas.


Lembranças,
longínquas lembranças,
doces fantasmas despertados
esgarçando
a cortina
do passado.



domingo, 2 de fevereiro de 2014

MAIS UM DIA...









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MAIS UM DIA...

Avelina Maria Noronha de Almeida




A bruma desenha fantasmas.
O vulto das palmeiras sugere preces.
A alma da neblina pranteia
a noite que morre.

Um galo canta rouco,
o outro responde cristalino:
duelo na madrugada.

Dentro em pouco
passarão homens para trabalhar
e grupos de mulheres
irão à igreja
rezar.

Mais um dia...
de luta?
de dor?
de tristeza?
de alegria?
de amor?

O dia que nasce é uma
interrogação
flutuando na bruma...




MADRUGADA











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MADRUGADA

Avelina Maria Noronha de Almeida



O galo abre as portas
da madrugada
deixando entrar o nevoeiro
denso e frio.

Os ruídos dos carros
já foram dormir.
Apenas passam,
de quando em quando,
retardatários movidos
a álcool e a sonho.

Dentro em pouco
os raios assépticos do sol
varrerão os últimos vestígios
da noite falecida.




FRAGMENTO DE TEMPO




















FRAGMENTO DE TEMPO

Avelina Maria Noronha de Almeida



Enquanto lá fora estoura
o sol do meio-dia,
entre as paredes antigas
o tempo desfia sombrio
e lentamente
o seu rosário de horas.

O tempo descansa a cabeça
sobre almofadas de cetim branco
ou de veludo bordado.

O tempo sorri nos móveis enfeitados
com paninhos de organdi
debruados com perlé dourado.

Há os tempos que se escondem
nas gavetas misteriosas e secretas;
os que cochilam em poltronas de palhinha,
vigiados por retratos redondos na parede.

Tempos que se diluem na frágil linha
traçada entre o passado e o presente,
que vivem nos sonhos
e dormem nas lembrança

enquanto lá fora estoura
o sol do meio-dia



FRAGMENT DU TEMPS

Tradução para o francês pela querida amiga
ANGELA VIEGAS, que tem um magnífico blog: Portugaldecouvertes

http://portugalredecouvertes.blogspot.com/

Alors qu’éclate dehors
le soleil de midi,
entre les vieux murs
le temps egrène obscur
et lentement
son chapelet des heures.

Le temps pose sa Tetê
sur des coussins de satin blanc
ou de velours brodé.

Le temps sourit dans le mobilier garni
de napperons organdi
ourlés de perlé doré.

Il y a les temps qui se cachent
dans des tiroirs mystérieux et secrets;
ceux qui sommeillent dans des fauteuils paillés,
surveillés par les ronds portraits du mur.

Les temps qui se diluent dans la ligne fragile
tracée entre le passé et le présent,
qui vivent dans les rêves
et dorment dans les pensées

alors qu’éclate dehors
le soleil de midi.



ANOITECEU









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ANOITECEU

Avelina Maria Noronha de Almeida



Os últimos e agonizantes
raios de sol
se escoram
nas árvores e nos montes
numa inútil tentativa
de sobrevivência.

A noite chega.
O cricri prateado dos grilos
belisca a escuridão.

As estrelas abrem suas corolas
no jardim iluminado do céu

A lua empoa
o seu rosto redondo
no pó de arroz das nuvens.

Dentro em pouco
irá desfilar
na passarela estrelada do céu.



sábado, 1 de fevereiro de 2014

VIAGEM










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VIAGEM
Avelina Maria Noronha de Almeida



O cisne negro da noite
engole a esteira de luz
dos faróis.

As árvores entram
e saem de cena
apressadas.

Lá em cima passeia
a lua, desligada,
desenhando displicentemente
contornos indecisos
no horizonte negro.

A estrada vai avançando.
Somos passageiros perdidos
dentro do inexorável e grande
mistério da vida.