domingo, 25 de outubro de 2009

CONTINGÊNCIAS























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CONTINGÊNCIAS

Avelina Maria Noronha de Almeida



Entrei num grupo de saltibancos

Sou equilibrista
do sonho
e do pão

Mas nem sempre recolho
as migalhas
das nuvens e das searas
que o vento me traz

por isso sou equilibrista
também
do grito e da fome

quarta-feira, 8 de julho de 2009

INVASÃO


















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INVASÃO

Avelina Maria Noronha de Almeida


Elas entraram pela janela
de uma maneira tão bela!

Seu perfume também entrou
e por todo o quarto se espalhou.

Vasculharam cada canto:
o oratório do Santo...

... abriram meu relicário
e as portas do meu armário...

... olharam quadros pendurados
pelo tempo empoeirados...

Até que, numa gaveta antiga,
onde guardei coisa amiga,

se acharam refletidas
e se olharam, embevecidas,

em uma das belas gravuras
do meu álbum de figuras.

Com alvos dentes sorriram.
Depois como entraram saíram

pela janela da minha vida,
da minha infância querida.

Formosas e orvalhadas
por tantas manhãs passadas,

doces como o puro amor,
as cerejeiras em flor

abraçadinhas,
branquinhas,

voltaram à sua imagem bela,
congelada em uma tela...

domingo, 28 de junho de 2009

FESTA DO CRISÂNTEMO



















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FESTA DO CRISÂNTEMO
(Numa cidade da Alemanha)

Avelina Maria Noronha de Almeida



Crisântemos amarelos,
numa explosão de alegria,
ou os vermelhos tão belos
como o sol no fim do dia,

ou roxinhos – que beleza! –
laranjas, arroxeados...
são prendas da Natureza
aos olhos extasiados.

Belos arranjos estão
espalhados na cidade.
É uma festa a floração
que todo lugar invade.

As hábeis mãos construíram,
em formas tão diferentes,
visões que os olhos não viram,
esculturas surpreendentes.

E, assim tão frágeis, as flores
têm de glória seus momentos:
preciosidades em cores
desenhando encantamentos.

Da mente do artista parte
tão feliz inspiração:
abraçam-se a humana Arte
e a Obra da Criação.

domingo, 7 de junho de 2009

AMOR À TERRA










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AMOR À TERRA

Avelina Maria Noronha de Almeida


Há muitos e muitos jeitos
de amar onde se nasceu,
a sua gente, os seus feitos.
Em versos é o jeito meu.

Na alegria ou na dor,
no que sinto, no que almejo,
pode a tinta ser amor
e a pena pode ser beijo.

MINHA TERRA














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MINHA TERRA

Avelina Maria Noronha de Almeida

É manhã esplendorosa
na taba dos Carijós,
e brilha a mata viçosa
onde se enroscam cipós.

Nos caminhos da aventura
vão chegando os bandeirantes,
sonhando sonhos gigantes
de muito ouro e fartura.

O arraial vai crescendo,
seu nome o índio lembrando;
os colonos trabalhando,
os desafios vencendo.

É a vila então criada,
de palácio tem o nome.
Mas – tristeza! – o ouro some,
já não se acha quase nada.

No templo barroco, a linda
Senhora da Conceição!
E na praça, a construção
do Chafariz é bem-vinda.

As casas vão se espalhando,
descendo pelas ladeiras,
rodeando o Bananeiras.
De Cidade a estão chamando.

Muitas lutas, muitas glórias!
Hoje a cidade, de um filho
tem o nome e tem o brilho
de conquistas e vitórias.

É, nas escolas, criança
e jovem: tem clubes, praças...
É gente de várias raças,
cheia de vida e esperança!

sábado, 6 de junho de 2009

DOCE AMPARO






















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DOCE AMPARO

Avelina Maria Noronha de Almeida


Penosa e lentamente eu subo esta ladeira,
com inseguro andar de gente envelhecida...
Longe me vai a força audaz e alvissareira
apanágio de quem, desabrochando a vida,

traz no sangue o vigor da bela juventude!
Fico pensando, então, amargurada e triste,
no castigo cruel que traz a senectude.
E por que a dor fatal de envelhecer existe?...

E enquanto angustiada eu vou, ao longe vejo
um vulto amado, e bom, e doce como um beijo,
fruto do dom maior que Deus nos deu no exílio.

O que importa que esteja o passo a me falhar
se, carinhoso e firme, agora, a me amparar,
eu tenho o braço forte e jovem do meu filho?

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O RIO DE MINHA TERRA














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O RIO DE MINHA TERRA
Avelina Maria Noronha de Almeida

O rio de minha terra
de longe namora o mar....
Vai descendo,
coleando,
tentando encontrar o mar.

As gotinhas vão em bando,
estremecendo,
sonhando com a esperada hora
de encontrar o mar,

com o momento
do amplexo
sonhado e
desejado
com o mar.

Leva, rio.
as gotas do meu penar...

ÀQUELA ESTRELA










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ÀQUELA ESTRELA

À minha mãe
Avelina Maria Noronha de Almeida


As noites belas, passo-as esquecida
a procurar aquela estrela
que um dia se afastou de minha vida,
sem que eu pudesse, junto a mim, retê-la.

Na imensidão da noite, luz vivaz,
apagou-se. Momento doloroso!
O recordá-lo, tão somente, faz
o sofrimento de minh’alma esposo.

Revê-la novamente eu mui quisera,
num ideal sincero, lindo e puro.
E em noites de dorida e longa espera,

vagam meus olhos pelo céu escuro,
embora saiba ser uma quimera
de novo ver a estrela que procuro.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

RECORDAÇÃO











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RECORDAÇÃO
Avelina Maria Noronha de Almeida


A sombra do que fui, oculta em doce
e longínqua poeira do passado,
veio me atormentar como se fosse
um fantasma perdido e reencontrado.

Trouxe linda boneca. Uma visão
de astros que, no infinito, se perderam.
Montes azuis tirou do coração,
idéias loucas... sonhos que morreram...

Abriu portas secretas, profanando
com seus dedos irreais, armas doridas...
Mas recuou amargurada, quando

Achou – pungente e triste como um “ai” –
um ramo de saudades ressequidas
envolvendo a lembrança de meu pai.

terça-feira, 2 de junho de 2009

VELHO TEATRO


















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VELHO TEATRO

Avelina Maria Noronha de Almeida


Em outro tempo aqui se ouviram palmas,
vibraram corações, e do talento
o brilho e a grandeza em quantas almas
despertaram ardor e encantamento.

Em vão quer o meu frágil coração,
entre mudas, inválidas paredes,
rever, com as tintas da recordação,
antigas chamas e longínquas sedes.

Apenas vejo pálidas cadeiras,
no cárcere do pó, entorpecidas
pelo triste destino das madeiras.

E, enquanto meu olhar se embaça, vou
meditando que existem muitas vidas
como o velho teatro que acabou.

FLOR MULHER
























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FLOR-MULHER
Avelina Maria Noronha de Almeida


Flor-Mulher
de suave floração...
que, entre cristais,
espelhos e diamantes,
te sobressais...
ou entre farrapos,
corroída pela fome,
entre tantos outros
nomes obscuros
escondes o teu nome...

Que te agarras temerosa,
frágil, insegura, submissa
ao caule forte que te domina
(mesmo até encanecida!)
mulher-menina...

Que em jardins antigos,
penumbrosos,
guardas teus olhos límpidos, formosos
e, violeta humilde,
entre folhas escondida,
és magnífica em
tua cotidiana lida...

Flor despetalada,
pisada, machucada;
humilhada....

Flor do campo crestada pelo sol,
fustigada pelo vento,
sem experimentar o feitiço
da mais aprimorada civilização
e, talvez, mais bela por isso...

Ou flor dos versos de Drummond,
nascida na rua, desbotada,
rompendo o asfalto,
cuja cor não se percebe,
com pétalas que não se abrem,
sem nome escrito nos livros,
que furou o asfalto, o tédio,
o nojo e o ódio,
flor do poeta Drummond...

Que sobrevives na lembrança
que ficou
do perfume que tua vida
destilou...

Branca e pura margarida,
rosa rubra e sensual,
cada uma com seu
encanto especial...

Flor-Mulher! Quantas vezes
nem sabes o sentido
do que fazes
e nem conheces o teu valor,
mas vives, e trabalhas, e lutas,
em todas as eras
e primaveras,
e mais forte e bela te tornas
quando floresces no amor...

sábado, 30 de maio de 2009

O ESPELHO














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O ESPELHO

Avelina Maria Noronha de Almeida


“- Não quebre o espelho, menina!
Dá sete anos de azar...”
Mas eu olhava,
entre divertida e vingada,
os caquinhos brilhantes
espalhados pelo chão.
Odiava o nariz,
que nada tinha de clássico,
os lábios grossos,
ancestrais,
e os olhos de quem
nada entendia do mundo.

Hoje eu gostaria
de juntar
todos
os
pedacinhos
e encontrar a minha face perdida.

REENCONTRO













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REENCONTRO

Avelina Maria Noronha de Almeida

Procurei por toda parte
nos móveis antigos e pesados
nas gavetas misteriosas
atrás dos quadros
Levantei panos
afastei cortinas
arranquei tábuas
abri grandes malas.

Desisti de procurar
e fui andando
sem tino
e sem destino

até que, de repente
passando numa rua antiga
encontrei
meus olhos de criança
numa touceira de boninas.

PAZ














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A PAZ

Avelina Maria Noronha de Almeida


Se o calor do teu coração
aquece sem queimar;
se forem, teus passos, guia
sem tambores a rufar;

se, da noite na solidão,
tua voz é canto de companhia;
e a força que te eleva o braço
não maltrata, mas acaricia;

se és sempre capaz
de sentir, como tua, a dor do irmão
e de, com ele, seguir no mesmo passo...
Tu me amas. Eu sou a PAZ!

FANTASIA





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FANTASIA

Avelina Maria Noronha de Almeida



Hoje é meu dia de Rosa Púrpura do Cairo.
Já não sou mais eu,
já não és mais tu:

Somos um sonho!

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Encantamento







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ENCANTAMENTO

Avelina Maria Noronha de Almeida


Era uma dessas noites estivais
em que, na imensidão celeste, estrelas
luzem em verdadeiros festivais...
Eu fiquei muda, inebriada a vê-las.

E, lá no céu, a lua, pensativa
e fria, olhava, assim como se fora,
desse rebanho de astros, uma altiva,
bela, dolente e fúlgida pastora.

Passava o tempo vagaroso, lento,
com pena de deixar o encantamento
daquela noite luminosa e linda.

Um êxtase de amor, de unção infinda,
senti no peito, com se estivesse
dentro de um templo, em fervorosa prece.

MÃE TERRA






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MÃE TERRA

Avelina Maria Noronha de Almeida


No milagre da vida tens, Mãe Terra,
exilada de ti, uma porção
de átomos, neste meu corpo que encerra
a luz, o sonho, a pedra, a podridão...

És minha herança e és meu testamento
entre as tramas dos genes e da raça:
és também desafios que eu enfrento,
és verde relva, és água que me abraça.

Quando eu morrer, meus ossos, meus cabelos,
meu cérebro, meu sangue, e tudo enfim
teu ventre se abrirá a recebê-los,

e tu, que és mãe tão boa e generosa,
farás brotar meu corpo em um jasmim
ou na forma suave de uma rosa.

domingo, 17 de maio de 2009

DO ENCONTRO














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DO ENCONTRO
Para o Luiz
Avelina Maria


E então eu te procurei
e te encontrei
Do encontro
fizemos o altar
a mesa
o leito
o berço
o jardim
o caminho de pedras

Do encontro
fazemos hoje
uma cadeira de balanço
para ninar
nossos cabelos brancos.

AMOR CONSTANTE













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AMOR CONSTANTE

Avelina Maria Noronha de Almeida


Se um dia se apagar a luz do meu olhar
e as cores de uma flor, do céu, das águas mansas,
o brilho de uma estrela, um raio de luar
não forem mais que pálidas lembranças...

será doce consolo ouvir a tua voz
na triste escuridão que toda me envolver.
Mas se, num sofrimento ainda mais atroz,
o dom das sensações de todo então perder

e aproximar-se, enfim, o derradeiro instante,
há de ser meu amor fiel, firme e constante,
de sonho viverá a chama que acendi.

No refúgio final do cérebro escondida
e na última fibra a cintilar com vida,
eu estarei, até o fim, pensando em ti.

VAGA-LUME


















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VAGA-LUME
Avelina Maria Noronha de Almeida

Sonhei brilhar no mundo do Poeta
que, de astros cheio, encantador, reluz...
ser da palavra primorosa esteta,
algo de belo e bom, calor ou luz.

Ó ilusório, ó doloroso anseio!
Inatingido ideal! Vaso de barro
apenas sou, de tosca forma e feio
- não taça de cristal, nem rico jarro.

Não gerei poema ou verso condoreiro,
nem sou cálida chama de um luzeiro
- mas cárcere de idéias, frágil lume.

Em vez de alçar um vôo, andei de rastro:
tentei da Via-Láctea ser um astro
nada mais sou que um pobre vaga-lume.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Minhas Poesias















SONHO E VIDA
Avelina Maria Noronha de Almeida


Com fios de luar minh’alma foi tecida.
Nas veias me transita a seiva borbulhante
dos que vão a sonhar na estrada desta vida,
procurando aventura e glória a cada instante.

Sobre nuvens me leva o amigo Rocinante,
companheiro fiel de andanças e corrida.
Nunca de Sancho Pança o preocupar rasante
encontrará em mim o pouso ou a guarida.

E com quantos e quais moinhos lutarei,
num mundo em que o cruel, o injusto, o vil, o forte
aos pobres e ao pequeno oprimem – eu não sei,

pois trago a sina, a sorte, ou mesmo a maldição,
de ter no sonho a Lei; no puro ideal, o Norte
e, no peito, de D. Quixote um coração.