quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

TEMPESTADE


















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TEMPESTADE

Avelina Maria Noronha de Almeida


O vento arranca
as florinhas roxas
do meu pé de primavera
e o chão fica juncado de dor.
Sabiá está chamando chuva...

As nuvens se adensam.

São Pedro está arrastando
as cadeiras do céu.
Santa Bárbara, valei-me!
- Queima a palha, menina,
que “envém” tempestade!

Ziguezagues de ouro riscam o espaço.
Os pingos cada vez mais grossos
tamborilam na vidraça.
O mundo chora o seu pranto
de dor e penitência:

PERDÃO, SENHOR!....

pelas mães que esfacelam os filhos
dentro do ventre seco
pelos que plantam pesadelos e colhem
ramos de louro
pelos que desfolham oliveiras
e perseguem doces borboletas
pelos que tiram o pão da boca dos famintos
pelos que prevaricam

PERDÃO, SENHOR,

PELOS
MUROS
PELAS
CRUZES
PELOS
FALSOS
PELOS
SUJOS

PELOS QUE PARTICIPAM
DA IMOLAÇÃO DOS JUSTOS

PELAS QUE PASSAM A NOITE
COM AS LÂMPADAS SEM AZEITE

P E L O S M A U S
P E L O S I N F I É I S
P E L O S I N E S C R U P U L O S O S

p e l o s q u e s e e s c o n d e m

p e l o s p u s i l â n i m e s

p e l o s o m i s s os

p e l o s

q u e


s o n h a m


e m


v ã o



p e l o S...


. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .


(PERDÃO PARA ADÃO E EVA!)


A tempestade se afasta com seu manto cinza,
sujo de águas barrentas,
arrastando folhas mortas.

Apenas uma ou outra gota se desprende,
agora,
das árvores escorridas e
solenes como fidalgos empobrecidos.

O ar fica de novo puro, fresco,
parecendo moça bonita que sai do banho.

Debruçada no muro úmido,
vejo as pessoas passarem
redimidas,
serenas,
apaziguadas...

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